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CONFIANÇA, ALINHAMENTO & TRANSPARÊNCIA

  • Writer: Diego Difini
    Diego Difini
  • Aug 14
  • 4 min read

Navegar pelo mundo da gestão patrimonial exige mais do que conhecimento técnico sobre investimentos. É preciso entender as sutilezas da relação entre cliente e assessor — uma troca que só prospera quando construída sobre três pilares: confiança, transparência e alinhamento de interesses.


Entre os aspectos mais críticos dessa relação está o modelo de trabalho e remuneração do assessor — elementos que não apenas afetam diretamente o custo do serviço, mas também podem enviesar as recomendações recebidas.


ARQUITETURA VERDADEIRAMENTE ABERTA?

Esse risco é especialmente presente quando se trabalha com instituições que oferecem produtos próprios ou mantêm acordos comerciais com gestores específicos. Nesses casos, há um incentivo natural para priorizar produtos mais rentáveis para a instituição — e não necessariamente os mais adequados para o cliente.


A primeira grande distorção que esse modelo gera é a preferência sistemática por produtos da casa, como fundos geridos internamente ou estruturados por equipes da própria instituição. O motivo é simples: ao recomendar um produto próprio, a instituição captura uma margem maior — somando a receita de gestão do fundo aos ganhos com distribuição e custódia. É um conflito silencioso, mas estrutural (e amplamente normalizado no modelo bancário tradicional).


Mesmo em modelos chamados de “arquitetura aberta” — que teoricamente oferecem acesso a uma ampla gama de gestores externos — o viés comercial persiste. Isso porque a prática do rebate (a parcela da taxa de administração de um fundo que é devolvida ao distribuidor) segue sendo amplamente adotada. Na prática, o assessor continua sendo remunerado proporcionalmente ao valor dos fundos que recomenda — criando um incentivo claro para favorecer produtos com taxas mais altas, que geram mais receita para a instituição.


Essa distorção muitas vezes se traduz em carteiras excessivamente carregadas de fundos ativos, mesmo diante de ampla evidência sobre a competitividade — e, muitas vezes, superioridade — dos ETFs¹. A razão? Enquanto fundos ativos cobram, em média, 0,64% ao ano em renda variável e 0,47% em renda fixa, os ETFs passivos equivalentes custam cerca de 0,14% e 0,10%, respectivamente².


COMISSÕES & CORRETAGEM

Outro ponto sensível é a remuneração baseada em comissões e corretagem — um modelo que frequentemente estimula o giro excessivo da carteira, mais orientado à geração de receita para o assessor do que à criação de valor para o cliente. Nesse arranjo, quanto mais operações são realizadas, maior a remuneração do intermediário, ainda que o impacto para o investidor seja neutro ou até negativo.


Soma-se a isso a falta de clareza em termos de custos indiretos, frequentemente usada como ferramenta de marketing. Muitas instituições anunciam “0% de custódia” ou “corretagem zero”, mas compensam essas gratuidades com estruturas opacas: alocação em fundos caros, compra e venda de bonds com spreads elevados ou uso de derivativos complexos com margens embutidas. Na superfície, o custo parece inexistente — na prática, ele apenas mudou de lugar.


AVALIANDO SEU MODELO ATUAL

Por isso, escolher um assessor que atue sob padrão fiduciário, livre de conflitos e com comunicação transparente, é o primeiro passo para garantir que seu patrimônio seja gerido com ética, eficiência e total alinhamento aos seus objetivos de longo prazo. Exigir transparência — com relatórios claros e regulares que detalhem todos os custos diretos e indiretos, distinguindo performance bruta da líquida — também é essencial.


Antes de confiar a gestão do seu patrimônio a qualquer instituição, vale refletir sobre algumas perguntas fundamentais:


(1) Como seu assessor determina as recomendações de investimento? Ele tem produtos próprios ou acordos com terceiros que possam influenciar essas recomendações?


(2) Como ele é remunerado? Além da taxa de assessoria, existem comissões, corretagens ou outros incentivos envolvidos?


(3) Ele já descreveu com clareza — e por escrito — todos os custos diretos e indiretos dos produtos que recomenda?


Com minha equipe, conduzimos essa análise de forma estruturada com nossos clientes. Elaboramos relatórios customizados que examinam em profundidade seu modelo atual de gestão — identificando riscos ocultos, ineficiências de custo e oportunidades de otimização. Trata-se de um diagnóstico claro e objetivo, voltado a fortalecer a tomada de decisão e proteger o que realmente importa: o seu patrimônio no tempo.



¹ No período de dez anos encerrado em junho de 2024, apenas 29% dos fundos ativos sobreviveram e superaram seus pares indexados, segundo o “US Active/Passive Barometer”, material publicado pela Morningstar.

² Segundo “Trends in the Expenses and Fees of Funds, 2024”, material publicado pelo Investment Company Institute of The Asset Management Industry. 


Este texto tem caráter exclusivamente informativo e não se destina a cidadãos, pessoas domiciliadas ou residentes ou a entidades registradas em qualquer jurisdição onde sua distribuição, publicação ou uso viole regulamentações e legislações aplicáveis. Em particular, este documento, ou qualquer cópia dele, não pode, sob nenhuma circunstância, ser publicado, enviado, levado, distribuído ou entregue nos Estados Unidos da América, seus territórios ou possessões, nem a qualquer pessoa considerada como uma “US person”, conforme definido pelas regras aplicáveis dos Estados Unidos. Todas as informações contidas neste documento — em especial dados, opiniões e análises (doravante, “Informações”) — são fornecidas exclusivamente para fins informativos, não devendo ser interpretadas como oferta, aconselhamento ou recomendação para compra ou venda de instrumentos financeiros, realização de operações, ou como distribuição de qualquer investimento coletivo. Todas as decisões de investimento tomadas pelo destinatário com base em instrumentos financeiros mencionados neste documento são de responsabilidade exclusiva do próprio destinatário, com base em sua avaliação independente da situação financeira, objetivos de investimento, tolerância a riscos, critérios de elegibilidade, bem como consequências jurídicas, fiscais e contábeis, e na sua própria interpretação das Informações fornecidas

 
 
 

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